Às vezes vai além das oscilações das temperaturas, ou da
força do vento. Tem haver com a vida, com a maneira que a tinta cai e pinta o
papel. Depende da intensidade do pincel, da quantidade de tinta, das levezas
com que se movimentam as folhas, do jeito que se olha a luz do sol. É o jeito
de deixar transparecer, o jeito do afeto. Não é bem o entendimento de causa,
não é modo planejado de vida, não é moral, ou valores, ou nem mesmo hipocrisia,
às vezes é a forma, o jeito de abrir a porta, o jeito de preferir esse á aquele.
Às vezes é o peso dos dias, dos sentimentos, do estado de espírito, do
pertencimento, e ao mesmo, a saudade, a falta. É a vibração de muitos conjuntos,
ou o som somente de uma melodia. Às vezes é a tristeza, revestida do esticar
dos lábios ou o ápice da infelicidade, e às vezes, a alegria da existência, ou uma
fantástica textura de plenitude. Às vezes Deus, às vezes o vazio do peito de
quem já se encheu tanto que esvaiu se, às vezes a desistência, ou o olhar
inquieto de quem seguiu o vazio do Adeus, ou o prazer do até logo. Às vezes,
mas às vezes sempre.

Yana Carla Monteiro Lopes