quinta-feira, 31 de março de 2011

Menino dos potes de café




Imagina que um dia desses conheci o menino dos potes de café. O menino com quem eu aprendi a mágica dos livros, a fantasia do desconhecido e a essência de um potinho com sementes de café. Lá de muito longe onde o parque fica cheio de vida as quatro da tarde, o garoto passava pelas ruas e deixava uma semente cair, para que ele jamais deixasse de sentir o cheiro dos seus cafezais e para que jamais se esquece das suas manhãs de café fresquinho. E tudo porque assim como existe na vida uma poesia viva, à também potes de café. E eu penso que talvez, cada um de nós tenhamos um pote desses em casa, guardado talvez em baixo da cama ou no fundo do cofre, onde todos os dias reafirmaremos a certeza da existência daquele tesouro que não temos que dividir com ninguém. E aí de quem ousar comparar meus saborosos potes de café com os potes de ouro de Dublin, aquele chá expresso que falta toda essência do meu cappuccino desejado.. dizia o garoto, entretanto ele concordava tristemente que entre ficar sem seus potinhos, e beber o chá expresso, ele deleitaria-se naquela maquina, porque mesmo no leito da sua morte o café será sempre seu bom e mais fiel companheiro.



Será que esse texto perece tanto com a sua paixão pelo café? rs



Dedicado ao garoto de tão longe, meu amigo dos e-mails Leo Yang.



Yana Carla Monteiro Lopes.

quarta-feira, 9 de março de 2011

Paixão

A quem diga que a embriagues de uma paixão só passa com o tempo. Será?! Tem tantas coisas na vida que não têm uma explicação plausível, tantas questões revogáveis. E o que é o passar de uma paixão diante de tantas incertezas? Pensara eu que tudo é uma questão de escolhas ou mesmo de destino para aqueles que nele acredita. Ou talvez de nada disso, talvez sejam mesmo só as linhas da vida encontrando sozinhas as palavras para preenchê-las. Eu olho por mim, olho pelos outros e olho por tantos. Vejo minha serenidade indo de encontro ao desconhecido procurando por um novo, de novo, e de novo, quantas vezes fosse preciso, e no final da rua havia sempre a primeira escolha do meu caminho olhando para mim com um pedido de perdão. A vida é assim. Talvez na velhice ou diante da morte compreendamos as razões que até a razão desconhece. Talvez dê para perceber que de pouco o muito se fartou e que de grande nem mesmo a vida ponderou-se. E uma ordem de desespero e uma necessidade aprendida em um corpo sedento de paixão. Amor que doa-se sem perceber. Amor que escreve com as duas mãos. Porque aquele que se propõe a amar, ama consideravelmente nem que seja muitas pessoas erradas.

Yana Carla Monteiro Lopes

segunda-feira, 7 de março de 2011

Não entendo. Isso é tão vasto que ultrapassa qualquer entender. Entender é sempre limitado. Mas não entender pode não ter fronteiras. Sinto que sou muito mais completa quando não entendo. Não entender, do modo como falo, é um dom. Não entender, mas não como um simples de espírito. O bom é ser inteligente e não entender. É uma benção estranha, como ter loucura sem ser doida. É um desinteresse manso, é uma doçura de burrice. Só que de vez em quando vem a inquietação: quero entender um pouco. Não demais: mas pelo menos entender que não entendo.

Clarice Lispector

... uma das coisas que aprendi é que se deve viver apesar de. Apesar de, se deve comer. Apesar de, se deve amar. Apesar de, se deve morrer. Inclusive muitas vezes é o próprio apesar de que nos empurra para a frente. Foi o apesar de que me deu uma angústia que insatisfeita foi a criadora de minha própria vida. Foi apesar de que parei na rua e fiquei olhando para você enquanto você esperava um táxi. E desde logo desejando você, esse teu corpo que nem sequer é bonito, mas é o corpo que eu quero. Mas quero inteira, com a alma também. Por isso, não faz mal que você não venha, espararei quanto tempo for preciso.

Clarice Lispector